Louva-a-Deus de bicicleta
Casos, opiniões, natura e uso fazem que nos pareça desta vida que não há nela mais que o que parece.
Luis de Camões
Sou louva-a-Deus
sou senhora, sou dama
sou a donzela dos réus
sou o amor e sou a chama
- Sou discreta
e ando de bicicleta
Hipócrita, dizem, no mato
digo-te a verdade inteira
tu me amas e eu te mato
eu não te sou lisonjeira
- Sou discreta
e ando de bicicleta
Não te sou lisonjeira
eis aqui um puro facto
outros dizem relijoeira
mas queres fazer um trato?
(- Tu me amas e eu te
mato)
- Sou discreta
e ando de bicicleta
Religiosa relijoeira
nigromântica e fatal
donzela sobranceira
de uma verdade mortal
- Sou discreta
e ando de bicicleta.
Não te engano, meu amor
se fores sincero galão
não sofrerás mal nem dor
mas a forma não é
coração
- Sou discreta
e ando de bicicleta.
Se me amas pela aparência
duro castigo sofrerás
não me culpes, é a
ciência
que nobre lei pagarás
-Sou discreta
e ando de bicicleta
Réu de princípio a fim
não te esqueças da
verdade
no além de ti e de mim
vive o que não tem idade.
-Sou discreta
e ando de bicicleta
Só sou um signo vivente
de Deus e da natureza
não me julgues no
presente
olha só minha pobreza.
-Sou discreta
e ando de bicicleta.
Não esqueças o trato
o tempo já se acabou
tu me amas e eu te mato
um abraço que me vou.
- Sou discreta
e ando de bicicleta
(Poema de José António Lozano)